sábado, 25 de agosto de 2012

Entre penas e pétalas.

Que saudade daquele tempo que não é mais necessário. Que vontade de estar perto desse doce passado de infinitas lembranças e amores. Mas que alegria de viver e de descobrir como é bom ser como aquelas aves ou como aqueles lírios. Mas que plenitude saber que se pode carregar aquilo que é verdadeiramente nosso, aquilo que conquistamos, e mais prazeroso se dar conta que carregamos parte daquilo que não nos pertence quando sabemos deixar que se vá, como os pássaros que cuidam de suas crias até a hora da partida, ou das plantas que embelezam até a hora de fenecer. Não desprezem, meus caros, esse pretérito ornado com miríades de gozos e tristezas; pelo contrário, respeitem-no como seus pais ou seus tutores, que te ensinaram a ser fortes, a ter valores e a ser do jeito que tem que ser para ser bom; e olhem com carinho para todas essas páginas de adoráveis memória, porque é justamente por elas, que se pode desabrochar para depois florir, cantar uma vida de novas alegrias e entender que mirram todas as coisas, visto que todas as coisas mirram. Elas não emurchecem como se então no presente ficassem tal como se nunca tivessem sido, mas fanam para que as novas tenham chance de vicejar, e deixam em seu solo um resquício de sua essência. O âmago divino, de abençoada fragrância. Pois tudo tem a sua devida importância. Tudo tem o seu devido valor. O passado, as pessoas, a matéria, o espírito, a vida, a morte, a ledice e o pesar. E isso deve ser respeitado, para que se mantenha o ciclo natural da existência. Para que o nostálgico imprescindível seja mais uma doce e saudosa dádiva.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Certezas da vida.

Há tempos que esse texto deveria existir, anos talvez, mas algo impediu seu nascimento, pois ele aborda temas que não podem ser ditos por se tratar do que só pode ser sentido. E com muita profundidade.

Há uma razão para a apatia à primeira vista; aquelas pessoas normais que não conhecemos e que estão ali, feito detalhes de uma paisagem comum, mas que nos incomodam feito farpas de madeira dentro da pele. Pessoas que são inocentes, à primeira vista, à vista simples, objetiva e carnal. São pessoas, como outras quaisquer, mas que perfuram nossa paciência sem precisar de palavras, gestos. O cheiro delas atrapalha nosso oxigênio. A coisa é meio assim, pessoal. A compreensão desse tipo de sentimento faz parte de uma visão geral que ainda não é exclusividade da grande maioria. Mas os fortes já entendem.

É mais do que necessário convivermos com esses seres, e para nossa informação elas contribuem muito na nossa vida, por mais inútil que isso possa parecer. Para nosso azar, ou talvez um dia sorte, quem sabe, são muitas essas criaturas e muito ainda teremos que tê-las no rol de nosso cotidiano. Passamos e passaremos muitas feitas com elas e isso é importante. Porque são como espelhos que mostram nossos piores defeitos, nossas piores tendências, piores momentos, atitudes. Os sábios de coração já aprenderam a amar esse espelho e refletir nele a beleza da vida.

Mas ainda não somos sábios.

Há uma razão para a indiferença à primeira vista, para existirem as pessoas que são como o vento. Pessoas que passam por nós constantemente sem nos darmos conta, sem que precisemos nos dar conta, sem que queiramos nos dar conta, sem que nem pensemos se precisamos, se daremos, se queremos, ou mesmo se nos importamos em dar conta. Mas o vento tem lá seus dotes. Quando estamos sem tempo nem pensamos que existe vento, que nele estão contidos os elementos fundamentais da nossa permanência no mundo. Quando precisamos, criamos movimentos para que o vento venha até nós e seja como desejamos: calor ou frio. Se há doçura em nós, sabemos apreciar as brincadeiras da brisa nas folhas, nos cabelos, nos amores, nos dias e nas noites. Mas se há melancolia, apenas vemos os furacões ou as desérticas miragens a enrijecer nossa alma de mágoa e petrificá-la de ódio. E essas pessoas passam como os ventos, levando as nuvens, os segredos; deixando os sorrisos, a próxima estação ou mesmo o vazio dos que não o apreciam. Elas passam e caminham de ambientes para ambientes. Entram em nossa vida sem pedir e sem nos consultar se tornam importantes, tal como sem nosso consentimento se vão para o infinito. E isso precisa acontecer, para o bem, sempre pelo bem. Nós, ademais, somos da mesma forma ventos que refrescam a vida de alguém.

Mas também há uma grande razão, e talvez essa seja a mais sublime de todas elas, para que exista amor à primeira vista. Amor que é puro, inocente, eterno, daquele que já nasceu dentro de nós. Conosco da plenitude para a transcendência.

E aqui está a grande dificuldade. Sabemos muito bem narrar à maldade. Em nossa literatura temos vastíssimas e preciosíssimas teses, teorias, postulações, obras, monumentos, romances, tratados e escritos que descrevem com infinita precisão a maldade, a crueldade e todos os filhos da sordidez. Talvez por sermos humanos, e humanos não são perfeitos, e a perfeição tem atributos, e um dos atributos é o amor, não sabemos ainda definir o elevado, entender virtudes, amar. Porque o amor exige muito na sua absoluta humildade. O amor exige muito de reles criaturas humanas que mal se despiram do seu envoltório de orgulho e egoísmo. Criaturas que ainda se preocupam com a maldade, que ainda estão com ela.

Chegamos quase próximo de entender algumas gramas da vasta magnificência desse sentimento quando olhamos nosso animal de estimação e sentimos a alegria e os eflúvios positivos dele a nos saldar como se não nos víssemos há séculos, e ficamos prontos a perdoar e nem sequer ousar lembrar de qualquer ofensa que nos tenha feito. Nós os amamos sem saber, e desse modo não esperamos nada em troca. Sabemos que eles continuarão fiéis sem nem ao menos pensar nisso e sabemos principalmente que só nos deixarão boas lembranças. A segunda maneira, mais intensa, é quando temos um filho. E o que sentiremos por ele será de uma grandeza incomensurável. Mas esse amor ainda não me é digno conhecer.

Todavia, compreendendo ou não, e merecendo ou não, existe uma razão muito profunda para existirem pessoas que amamos sem qualquer cerimônia. Pessoas que não precisam de nada, absolutamente nenhum requisito para serem muito queridas por nós, para fazerem uma diferença brutal na nossa vida, que as vezes nem mesmo tenhamos convivido muito, compartilhado qualquer coisa, mas que sabemos que também nos amam. São dessas pessoas que nosso espírito se sente revigorado, são elas que dão cor às desbotadas esperanças que temos de continuar sorrindo, de ter alegria, de ter fé, de procriar amor, de ter força para resolver problemas, de lutar contra o mal e de sermos melhores. São essas pessoas que nos fazem sentir que nunca e jamais estaremos sozinhos, pois esses laços que temos, essas cordas infinitas de relações imutáveis, continuarão nos sustentando em redes mentais que propiciarão auxílio independentemente de como e de onde estivermos.

Dessas pessoas, eu sinto uma saudade gostosa, e pensar nelas, me faz muito bem; amá-las faz parte do sentido da minha vida. Não preciso de nada além de um abraço, um olhar, um sorriso, ou uma tarde de ricos conselhos, e se dessas coisas nenhuma for possível, ainda assim me contentarei, pois sei que o amor na sua grandeza exige de nós simplicidade, virtude essa que a nossa ganância em ter tudo de uma vez bloqueia. E sei também que ele existe além do tempo e do espaço, porque o tempo nada mais é que uma sucessão de eventos efêmeros; e o espaço não é mais poderoso do que a força do pensamento, nem do que a intensidade do verdadeiro sentimento.




domingo, 5 de fevereiro de 2012

Vida vida, linda vida.

Valois, mais uma vez preciso muito de você.
Eu já não sei o que fazer com a miséria do meu silêncio que grita desespero. Falta de esperança em conseguir mudar tudo isso de ruim.

- Conte-me, minha cara, escutar-te-ei como sempre.
- É algo que nem sei bem como explicar.
- Comece pelo começo, ou por aquilo que se inicia agora em vossa mente.
- Mais uma vez eu errei.
- Natural de todos vós, seres humanos.
- Mas eu estou contra a maré. Mais uma criação que nasce com toda a formação da maldade. Sim, foi a primeira do ano infectada de pensamentos ruins.
- Sim, eu entendo.
- Mas não deveria ser assim, deveria?
- Minha querida, essa nova não nasceu como as dos anos anteriores. Ela já está madura, florida, veloz em seu processo de crescimento. Isso tu não podes negar. Atenha-se aos ganhos, pois de infortúnios adornamos a tristeza. Aliás, das coisas notáveis que tu perdeste eis o senso crítico.
- Sim, esse eu notei que me foi embora.
- Perdeis o senso crítico que vos permitia olhar para as diversas criações e distinguir o joio do trigo. Tu não consegues mais aprecia-las por não quereres reconhecer qual é bela, qual é admirável, das incontestáveis excrescências. E isso, anjo meu, é a vossa pior perda.
- Mas e minhas jóias? E minhas expectativas?
- Não. Tu nunca tiveste jóias para perderes. Elas jamais foram tuas. Tu não conquistaste jóias, tu não floriste teus jardins, tu não semeaste tuas planícies, tu não lutaste para bem algum, espiritual ou material. Tuas expectativas foram apenas ilusões. Teus desejos não dependiam apenas da vossa pessoa para se concretizarem, e por isso não eram importantes.
- Eu sei. Mas por que a angustia? Por que essa náusea todas as vezes que penso nessas jóias, se elas nem ao menos são minhas, se elas nem ao menos se importam comigo? Por que essa dor e esse vazio mesmo com a ordem material e espiritual? Por que não ser simples? Simples como a realidade, como a beleza, como uma criança? Por quê?
- Tu tens a resposta, anjo meu. Tu elaboraste teorias precisas sobre o sofrimento que naturalmente também são aplicáveis a ti. Deveis reconhecer que passará. Acabarão todas essas mazelas, e o bem triunfará. Mas é preciso lutar. Seu esforço se faz necessário. Tens já amadurecida a consciência de que não permaneceis ai, humana, de férias, em busca de felicidade, pois a felicidade se compõe de satisfações, e estais em um mundo de humanos com necessidades matérias.
- E daí?
- E ai que és espírito; e a felicidade de um espírito está além de toda essa calda bruta de mediocridade. Não podeis ainda compreender o que é isso. Falta-lhe conhecimento, falta-lhe depuramento moral, falta-lhe não precisar mais de humanidade, matéria, tua realidade sensorial. E como conseguir, tu aprendeste. Sim, é necessário ainda ser humana, o trabalho, as provações as expiações, as alegrias simples, as satisfações materiais para que se atinja o cume, e o que está além é o primeiro grão de entendimento da magnitude. Não estais sofrendo, querida. Lembra-te que sempre estamos contigo, que o auxílio providencial sempre recorrerá às tuas necessidades. E tranqüiliza-te a alma.
- Compreendo.
-Faz a tua parte, façais com amor, façais da melhor maneira possível e com destreza de vossas ferramentas e não tornes a perder os teus maiores valores.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Valois que me entenda.

Pois é, a vida também tem suas durezas. Nossa existência tem a sua parcela de dor. Sim, ainda somos imperfeitos.

Mas ainda escolhemos muita coisa. Escolhemos nosso tipo de vida, nada é imposto, e cada parcela de sofrimento carrega em si grandes doses de ensinamento, aprendizado, funcionando como um espelho das nossas decisões. Das nossas atitudes.

E ainda tem o vazio. Ele toma conta das pessoas felizes e das infelizes, das bem sucedidas e dos desgraçados, das bem intencionadas e dos patifes, dos ricos e dos pobres; claro que em maior ou menos grau, dependendo de cada situação, mas atinge a todos como o Sol, como a generosidade providencial. Justos e injustos em algum momento cairão nas redes irresistíveis desse vácuo angustioso.

Por que viver sempre sozinho quando estamos rodeados de seres humanos que cada dia mais pipocam em todos os lugares? Para que nascer crescer, se desenvolver – que implica todas as exigências de conquista profissional da vida contemporânea – se não pensarmos com quem compartilharemos tudo isso? Se não pensarmos em como a partir de nossas conquistas podemos fazer outras pessoas felizes?

É ai que percebemos que toda conquista de ordem material satisfaz a todos os desejos materiais. E somente a eles. Mas das necessidades do espírito apenas conquistas espirituais saciam a sede da nossa alma. Evidente que não se pode pensar em desenvolvimento espiritual antes do material, no sentido primitivo e de forma saudável, mas a conseqüência direta do egoísmo, para os iniciados é naturalmente o nada. Porque a solidão por ela mesma não tem sentido algum.

Agora é compreensível essa necessidade, humana ou divina, de amar.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O grande presente das ladras

Impressionante como o tempo passa e muda
Sim, concordo que esse tipo de postura é a mais clichê dos últimos séculos, mas vamos lá.
Eu resolvi aparecer depois de tanto tempo ruminando novas ideias, resolvida a trazer material bruto para minhas novas postagens, e veja que surpresa: hoje tenho tanta coisa para falar que nem ao menos sei por onde começar. Avante, pois, que a noite é curta para as grandes almas.

Hoje consigo olhar para o passado e ver que dezoito anos boiaram pelas catacumbas da minha memória e serviram para alguma coisa. Sim, meus caros, serviram. Todos esses anos que hoje me parece uma boa piada, não conseguem nem ao menos tocar os pés da experiência que me abraçou esse ano. Vamos a exemplos mais concretos.

Na infância, pensamos sempre que nós somos o centro do universo, e ai daquele que contestar! Terá que acertar as contas com o nosso choro desesperador. Somos inocentes, impotentes e válidos só para a satisfação contemplativa de pais solitários.

Quando a puberdade emerge, choramos mais ainda, só que temos tanto menos pessoas que se preocupam com esse choro como novos temas para lamentações. Descobrimos que o centro não é de nenhuma maneira nós mesmos, mas uma grande alegria: a descoberta que possuímos uma opinião. É aí que temos o que a hipócrita Senhora Democracia mais adora: as nossas convulsivas regurgitações de singularidade. Queremos falar, nos expressar, nos defender, criticar. Vestimos completamente a roupa do diálogo. Ah, essa Juventude, que frescor.

Só que ela passa, e como vocês bem podem perceber, está começando a passar de mim. Já nos encontramos em outros carnavais e agora ela já vem se despedir da minha pessoa. O carnaval “meio que tipo assim” já passou. E ai a idade madura bate na porta querendo entrar. Tentamos todas as artimanhas para afastá-la, talvez nem todos se deem a esse trabalho. Alguns aceitam com o máximo de naturalidade, mas uma hora, cedo ou tarde, ela vem. Talvez já existam aqueles que nessa vida não chegaram a conhecê-la, mas não se iludam, pois esses últimos são aqueles que certamente já a cumprimentaram diversas vezes, em outras ocasiões, por essa eternidade.

Quando essa idade adulta vem se aproximando, sentimos sua presença com a carga de responsabilidade que se potencializa em uma velocidade absurda em relação àquele ritmo de mudanças da infância. Mas é natural do progresso. Então temos um acontecimento inovador: nossa opinião já completa sua gestação e está pronta para ser lançada, mas outro problema nasce primeiro, o problema é que descobrimos que aquilo que pensamos, isto é, nossa opinião, não é importante para ninguém. E quando compreendemos isso nos tornamos verdadeiros adultos.

Mas ser adulto e ter responsabilidade também são situações divertidas e produtivas, se assim soubermos conduzir a marcha. Marcha para o que vem depois.

Ser adulto também significa conseguir olhar para o passado e entender as relações, as intersecções, as interdependências, as nuanças, os detalhes, as causas e efeitos, as etapas e etc. de tudo aquilo que fomos, somos e ainda podemos ser, assim como nos faz compreender nossos relacionamentos humanos.

E eu comecei a ter esse olhar. Já foi o tempo de pensar em tudo o que supostamente sofri e chorar, culpando alguém que hipoteticamente possa ter me magoado, pois o que sofri? Quem me magoou? O que aconteceu que eu só saí perdendo? E o que aconteceu de aparentemente ruim que não fosse fruto de um erro inicialmente meu? E não digo isso pela parca experiência, pois me atrevo a dizer que mesmo nos últimos dias, lá pelos noventa e cassetadas eu diria a mesma coisa, talvez acrescentasse mais alegria e mais amor, quem sabe. Mas a questão é que digo isso porque a Dona Experiência de Vida já me convidou para tomar um chá de boa prosa, sobre os assuntos do tempo e acredito que quanto mais cedo eu acertar as contas com essa existência, mais rápido eu vou me livrar de seus convites de sofrimentos.

Mas falando em sofrimento, não sei se já abordei a minha segunda teoria por aqui, ela vem a calhar. Ela vem sempre a calhar. Segundo eu mesma, mentira. Segundo eu e meus pensamentos. Mentira novamente. Segundo eu, meus pensamentos e todos aqueles que já pensaram nisso , além dos seus respectivos pensamentos, uma ser humano não faz outro ser humano sofrer. O que faz o outro ser humano sofrer é o seu próprio defeito que foi exposto indecentemente com a atitude do primeiro ser humano em questão. Ficou complicado. Vamos explicar e aplicar.

Uma ofensa lançada por um homem x só faz um homem y sofrer se essa ofensa atingir e deixar peladinho um defeito, ou em melhores termos, uma imperfeição moral, do homem y. Agora apliquemos essa teoria em um exemplo aviltante.

Suponhamos que um homem traia sua mulher, talvez seja difícil imaginar, mas vamos nos esforçar um pouquinho. Essa senhora certamente ficará abalada e magoada, pois em um relacionamento sério não queremos que isso aconteça. Mas o que, segundo minha teoria, realmente fará essa criatura sofrer é a sua relutância em perdoar, seja pelo ciúme seja pelo orgulho. Não que o cara não tenha nada com isso, e nem mesmo que seja fácil aplicar essa teoria na prática. Mas é a realidade. É isso e nada mais.

Falar da minha teoria é importante porque foi pensada e exemplificada no momento em que essa ponte entre a juventude e maturidade ocorreu, ou seja, agora. Esse ano. Nesse momento. Ela está sendo estudada por mim em muitas situações e é o que me possibilita entender por que muita coisa mudou, por que muita coisa muda, por que e como acontece.

A primeira teoria, não muito estudada, mas de não menos importância diz respeito à amizade. É bem óbvia, como qualquer boa teoria, modéstia a parte.

Lá vai: As pessoas que possuem desestruturas familiares, tendem a supervalorizar o conceito de amizade. Não ficou claro? Eu explico. Zica na família gera seres humanos carentes de afeto. Sim, é óbvio, mas entender isso de uma forma pragmática não é tão babaca assim.

Por que a desestrutura familiar deixa as pessoas meio cegas e fica fácil ser vítima do destino quando se está condenado desde os meados da vida. É fácil ser ignorante porque isso é mais uma desculpa para realizar cretinice. É fácil ser pobre para um pretexto na defesa da esmola como uma necessidade, também é fácil ser bom e virtuoso quando se tem muitos recursos, assim como é fácil julgar algum erro quando não se está na pele do culpado. Certamente existem lá as exceções, mas são apenas exceções.

Só que tem um problema. Eu não tenho uma família desestruturada para saber o que é supervalorizar amigos, por isso faço parte dos que julgam sem estar dentro do subconsciente do réu. Desculpem-me. Nem mesmo a mais imparcial opinião é realmente honesta, pois ela não consegue se infiltrar no espírito de todas as opiniões diversas. Ela é parcial por ser completamente honesta.

Quis comentar da amizade por que tal como o sofrimento foi outro tema recorrente nas minhas reflexões. E como um tapa na cara acordei do torpor de aparências de todas aquelas almas que conheci e convivi esse ano – e olha que foram muitas – para colher delicadamente com a ajuda do tempo, da paciência e da necessidade, aqueles que me são fiéis e que me amam com toda a sinceridade que conseguem. Isso é engraçado.


É engraçado como nos enganamos tolamente com o que vemos. Tanto a física quanto a espiritual. Mas isso não me impressiona. Sim, é bom ter amigos. Sim temos amigos. Sim, eles são importantes. Sim, amamo-los e eles também nos amam.

Só que ainda assim eles têm o espaço deles e o caminho pautado pelas escolhas que eles tiveram. Fazemos parte de trechos fragmentados dessas trilhas, pois às vezes elas se cruzam com as nossas, mas são momentos. Belos e prazerosos que só devem deixar o aprendizado. Depois todos se separam para tornarem a se juntar. E se separar, e seguir. E progredir.

E entre o que vai e o que fica ainda tenho eu outros assuntos para comentar.

Vejamos. Falamos de mudanças, da vida e de suas etapas, experiências, teorias e ah, claro. Não falamos de seus sentidos nem mesmo de seus significados. Talvez esse ponto seja o mais relativo de todos. Talvez. Mas vamos falar do que me toca.

O sentido.

Agora é o amor. Eu espero realmente que sempre seja isso. O amor está estre as coisas que eu não quero que mude ou se perca nesse emaranhado de transformações que a existência convida. Espero profundamente que o sentido da minha vida se resuma nisso. Espero poder viver e poder morrer para amar, semear, cultivar colher e distribuir esse sentimento para o maior número de pessoas que eu conseguir. Como? Simples. Tudo começa desde as relações com aqueles que estão bem próximos, nossos familiares, passando pelo amor àqueles que imploram por ele em asilos, orfanatos, até aqueles desconhecidos que passam por nossa vida em segundos, durando apenas o tempo do nosso olhar de eternidade. O infinito de um olhar nosso em um desconhecido. Quase uma arte.

E o significado? Bom, pra mim a vida serve apenas como uma espécie de estágio para trabalharmos nossas imperfeições intelectuais e morais. Estágio esse que adianta nossa caminhada pela eternidade, se não formos ociosos.

Precisamos ser cada vez melhores do que já fomos e do que somos para que um dia tenhamos maiores e melhores condições de ajudar aqueles que ainda não estão ao nosso lado. Aqueles que ainda pensam que sofrem. Aqueles que realmente sofrem por pensar que o que passam é um grande sofrimento. Ser inteligente, conquistar conhecimentos para adquirir sabedoria, é importante para que saibamos dessa forma elevar nosso espírito e depurá-lo da inveja, do ciúme, da prepotência da arrogância, mas principalmente do orgulho e do egoísmo. E para que conquistar e articular inteligência e burilamento espiritual? Para auxiliar outras pessoas a também obterem. E para que, minha vida, para que? Porque o que poderia nos tornar mais felizes do que isso de distribuir alegria? Minha pouca experiência de vida não me permite responder.


Caramba. A noite escorreu tão suavemente e as horas se foram tão vagarosa e silenciosamente que eu nem ao menos falei das ladras e o seu esplendoroso presente, nem das outras milhares de descobertas. Mas não caberiam todas.


As ladras, ao todo três, foram mulheres que jamais me conheceram, e talvez jamais cheguem a me conhecer, mas que tiveram uma importância decisiva em minha vida. Ambas são, pelo menos em aparência, belas. Quase como princesas. Talvez fadas. Foram mulheres mais velhas, mais maduras, mais decididas, quem sabe mais astutas, ou quem sabe mais sortudas.

O fato é que elas roubaram de mim algo que eu nunca tive. Três preciosidades que eu jamais terei. Três pedras que eu deixei cair das minhas próprias mãos por uma gota de displicência e muitas colheres de inocência. Ou seria mediocridade? Nunca mais saberei.

A primeira me roubou o diamante que me impulsionou para a vida. O diamante que deu sentido para minhas ações, para o meu cotidiano, para o significado dos meus incansáveis movimentos diários em teclados diferentes. Todos os “sofrimentos” consequentes da escolha dessa atividade que eu quis realizar foram indulgentemente compreendidos na extensão da magnificência desse diamante.

A segunda foi mais contundente. A menos bela, porém a mais cruel. Roubou de mim o rubi que eu sonhei guardar. Desejei que fosse somente meu. Loucuras e asnices realizei para ter a pedra em minhas mãos, mas elas foram tão toscas quanto grande foi a dor de ver meus defeitos atingidos, todos ali, nus. E lutar por essa pedra adiantou tanto quanto abraçar o vento. Doeu-me tanto quanto as mais duras decepções que o orgulho e a vaidade não podem suportar. Sacramentou-se em meu peito a maior mágoa de toda minha vida.

E finalmente essa terceira me rouba a minha ametista luminosa. Foi como se eu já esperasse. Foi como se estivesse escrito nas estrelas que mais uma ladra me roubaria mais uma pedra que eu não cuidaria com carinho suficiente.

Só que dessa vez foi diferente. Não sofri com a perda dessa joia, porque sem querer essas ladras deram-me o maior e o melhor presente que eu podia imaginar. Estava guardado embrulhado só me esperando.

E esse presente foi o que me permitiu escrever esse texto, pois graças a essas ladras eu entendi porque não preciso de pedras preciosas para ser feliz, ou melhor, não são essas pedras preciosas que definem sentido da minha vida ou o que eu considero essencial para a minha felicidade, mas o valor que eu acredito que elas tenham. E essas mulheres me mostraram que essas pedras não merecem a minha atenção. Elas já não servem mais para mim.Foram importantes, mas agora são apenas pedras. Pedras que hoje enterram o cadáver das fantasias de uma juventude. E jaz sobre ao túmulo de um tempo curioso, aquele da nossa infância emocional.

Gostaria agora de colher as melhores flores do meu jardim de virtudes e deixá-las perfumarem nessa lápide. Foi o sepulcro das lembranças nostálgicas de um fragmento inserido em uma finalizada etapa existencial. Que já está enterrada.

Tudo dentro desse pequeno caixão me fez muito feliz, momentos de intenso e concetrado prazer e me tornou mais humana. Que sigam em paz nos caminhos para o além.

Ademais, e dessa vez com um sonolento adeus de boa noite, quero agradecer imensamente a essas ladras que me ajudaram a crescer e a continuar crescendo. Elas que jamais entenderão o que se passou em mim. Que a paz também esteja dentro de todos os seus corações, embalando os melhores sentimentos com as melhores vibrações.

Durmam todos com os anjos.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sucateável.

Faz tanto tempo que por aqui não passo que não tenho nem mais o que falar.

Sabe que quando eu fico muito tempo sem escrever a coisa enferruja, mas se eu escrevo sempre acabam-se os assuntos, acabam-se as ideias.

E vamos ver o que temos, depois de tantos dias esquecidos.

Percebo que muitas lembranças do passado já ficaram por lá, murcharam e caíram feito folhas de outono. Tanto as lembranças, quanto as ideias, os sentimentos, as concepções, algumas pessoas, e algumas atitudes que de tão endurecidas pelo tempo já não servem mais.

É engraçado pensar na vida como um emaranhado de responsabilidades que enlaçam nossos problemas e nossos prazeres, sendo tudo escolha nossa e unicamente para nosso destino. É curioso ver o todo quando as pequenas partes que o compõe cada dia ficam mais nítidas e evidentes. É extraordinário como a pequenez de nossas medíocres paixões se torna infinitamente vulgar, perto do oceano de virtudes que podemos alcançar com o esforço do nosso burilamento interior. É, enfim, soberanamente grandioso quando a matéria vai se tornando menos importante que o espírito. É engraçado crescer.

Mas falemos ainda sim do que fica. Fica o amor. Fica o trabalho e a vontade. Fica a mudança.Sempre.

Tudo aquilo que não é mais compatível com o nosso grau de evolução fica descartado e reciclamos.Não precisamos ser crianças para sermos simples e desprovidos da malícia das más inclinações. Não precisamos ter pós doutorado em nada para percebemos que na vida podemos e devemos fazer a nossa parte que é simples. Não é preciso tanto conhecimento ou tanta experiência para o respeito, para o bom senso. Não é preciso ser rico para fazer a caridade, não é preciso ter ou ser o que não somos para ser aquilo que somos e viver com o que temos. Não é preciso dar o que não se tem para quem não sabe como receber, mas é bom fazermos o que podemos para aqueles que precisam.

Precisamos apenas de menos necessidades.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Mal Humor.

Tem dia que a gente acorda com vontade de não ter nascido, e hoje por exemplo, é um desses.

Não sei se é só comigo, talvez não seja mesmo, talvez com certeza, mas o fato é que eu odeio quando a vida fica na mesmice e nos dá oportunidade de criarmos problemas e defeitos que ela não tem. Começamos a lamentar de coisas pequenas, transformamos pequenas lagoas em tsunames, e perdemos a capacidade de agradecer pela saúde, inteligência, nossa comida, além da sorte de ter sido o espermatozóide campeão.

O problema é pessoal. A vida é chata porque deixamos ela assim. Os defeitos existem como ferramentas para nos melhorarmos, e sábios são aqueles que sabem disso.

Eu teria mais um motivo para me irritar. Pela enésima vez não salvo um bom texto que fiz para essa postagem, mas pela primeira vez não sinto vontade de reescrevê-lo com a mesma ideias e palavras diferentes.


Só um coisa que fica: estamos no lugar certo, com as pessoas certas, no momento certo, com a cultura adequada às nossas necessidades, e com os recursos certos. Cabe a nós realizarmos o melhor trabalho com os instrumentos que estão disponíveis, articulando Vontade e Saber. Podemos sim ser muito felizes.